Eu sou um profissional que atua com IA há mais de 30 anos, quando IA ainda era abreviação de Instrumentação & Automação 😊.
Quando fui convidado a escrever este artigo sobre IA (Inteligência Artificial), me comprometi a trazer uma visão sobre o tema que não fosse restrita à minha atuação como executivo de uma das maiores empresas de tecnologia da Alemanha, o Samson Group, mas sim, como cidadão brasileiro, latino-americano, usando minha base de atuação acadêmica e profissional, trazendo uma visão sistêmica sobre o tema e uma reflexão sobre como podemos gerar mais valor através da IA.
Mais do que uma hype do momento, a IA passou a ser um consenso entre todos, de que é importante, fundamental em todos os segmentos da sociedade, seja na academia, nas indústrias, setor público, área de saúde, etc.
Mas se a IA é tão importante assim, por que ainda vemos inúmeras empresas e executivos relevantes nas mais diversas organizações, ainda relutantes em implementá-la em suas operações?
Se praticamente todos concordam que a IA é uma tecnologia fundamental para gerar vantagens competitivas sustentáveis e manter a sobrevivência das organizações, o que falta para que as indústrias latino-americanas efetivamente passem a adotá-la?
Trago alguns pontos para nossa reflexão:
As organizações de base industrial, majoritariamente constituídas e tendo seu crescimento consolidado durante o período da terceira revolução industrial, ficaram gigantes e milionárias sem a IA. Suas lideranças possuem forte viés financeiro e as operações são regidas por KPIs orientados a desempenho de qualidade, volume de produção, receita gerada, entre outros, que já existiam antes, independentemente da IA.
O fato é que, felizmente, ou infelizmente para algumas empresas, já estamos no período da quarta revolução industrial, e as tecnologias, processos, cultura e estrutura organizacional que foram usadas por anos, já não representam garantia de perpetuidade das organizações. Sendo assim, a liderança que não conduzir sua organização para o uso massivo de soluções digitais, onde a IA é somente uma delas, adaptar a cultura organizacional, otimizar os processos em todos os setores da empresa e ter uma dinâmica de redução de barreiras e distância de poder em suas estruturas organizacionais, assumirá um enorme risco de perder competitividade, talentos e reduzir as margens de lucratividade da empresa.
A IA generativa até tem sido bastante usada nos departamentos das áreas corporativa e de negócios em várias empresas, mas na área industrial, onde a IA gera um valor substancial para melhoria das margens operacionais, ainda é pouco utilizada no Brasil e em toda LatAm.
Até aqui, o leitor deste artigo pode estar imaginando que esta minha preocupação é com o viés de executivo de uma grande multinacional provedora de alta tecnologia, mas de fato, dentro de uma visão sistêmica, trago esta reflexão para uma camada bem mais ampla, e meu objetivo é levantar um debate em alto nível com todos envolvidos, seja um fornecedor como eu, ou executivos das pequenas, médias e grandes indústrias, academia, governo e todos stakeholders envolvidos e impactados por este tema.
Um estudo conduzido pela UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), uma agência da Organização das Nações Unidas que se concentra na análise e desenvolvimento de políticas para comércio e desenvolvimento de países, indicou que há uma diferença cada vez maior ao longo dos anos, entre os países considerados “core” (Europa ocidental, EUA, Japão, Austrália, Canadá e Nova Zelândia. Eu incluiria a China nos últimos anos), e os países periféricos, que são todos os demais do planeta.
O estudo e este gráfico resultante da pesquisa, indicam que as desigualdades nos países considerados periféricos, ou em desenvolvimento, onde o Brasil e todos os países da LatAm ainda se encontram, aumentam consideravelmente com o passar dos anos e com as mudanças tecnológicas que vivenciamos.
A quarta revolução industrial trouxe o período da indústria 4.0, onde a distância entre os países “core” e “periféricos” aumentou ainda mais. A transformação digital está fazendo com que as tecnologias aplicadas às indústrias aumente a produtividade e competitividade a nível global e de forma cada vez mais desigual. Precisamos fazer algo por aqui na LatAm urgentemente!
A Inteligência Artificial faz com que esta distância aumente numa velocidade ainda maior, o que representa um risco para nós como cidadãos brasileiros e latino-americanos. Então, se as indústrias não adotarem a IA por aqui, como elas vão conseguir ser minimamente competitivas neste complexo cenário global em que vivemos?
Se todos entendem que a IA é um imperativo para a sobrevivência das indústrias, por que muitas empresas ainda não implementaram?
Alguns fatores são observados em minhas interações com indústrias dos mais diversos segmentos de mercado e com o meio acadêmico. Abaixo, trago algumas reflexões para pensarmos e debatermos juntos:
1 – É fato que, em função do hype da IA estar na moda, muitas empresas e startups usaram este termo para dar um banho de marketing em seus produtos e serviços, mesmo sem que fossem essencialmente uma IA, ou ainda pior, sem que tivessem comprovado a efetividade de seus algoritmos e validado a geração de valor. Esta profusão de IA por todos os lados, sendo aplicada até mesmo onde não seria necessária, resultou numa quebra de confiança entre fornecedores e indústrias consumidoras desta tecnologia. Quase ninguém aguenta mais ouvir falar de PoC (Proof of Concept), provas de conceito de tecnologias ainda não estruturadas para executar as funções prometidas. Óbvio que a PoC faz parte de um processo de inovação, são importantes na jornada de desenvolvimento de novas tecnologias e precisam ser executadas, mas o fato de termos uma quantidade excessiva de tecnologias ainda incipientes alegando que farão maravilhas com a IA, gerou uma grande frustração e esta repulsa em diversas lideranças industriais, na medida que não entregavam nem de perto do que prometiam.
2 – Somando-se ao fato de que no Brasil e demais países da LatAm possuímos baixíssimos níveis de confiança entre os cidadãos e, especificamente no Brasil, somente 6,5% da população entendem que podemos confiar na maioria das pessoas, esta pesquisa realizada pelo World Value Survey indica que, por questões culturais, desconfiamos uns dos outros em relação ao que escutamos e vemos, seja nos negócios ou em nossa vida pessoal. Vemos esta característica presente em nosso dia a dia, quando desconfiamos do feirante e sua famigerada balança, do pacote de frango congelado em que achamos que tem água para aumentar o peso, na relação entre comprador e vendedor em termos gerais, etc.
Por aqui, precisamos provar que somos honestos e inicialmente desconfiamos dos demais, enquanto, em países com elevado nível de confiança entre os cidadãos, estes precisam fazer algo que os desabone para que se perca a confiança no outro. Quanto menor a confiança, cria-se mais burocracia para tentar evitar ser enganado, e uma das consequências é o impacto negativo do PIB destes países e a perda de oportunidade de geração de valor. Se você é latino-americano, tenho certeza de que algo lhe parece familiar.
Fonte : https://ourworldindata.org/trust
Somando os fatores 1 e 2 acima indicados, entendemos um dos motivos que fazem com que poucas empresas no Brasil e América Latina estejam utilizando a IA em suas operações industriais: falta de confiança na tecnologia e em seus provedores. Precisamos reverter este cenário se queremos nos tornar um país mais competitivo!
3 – Aliado à questão da falta de confiança acima destacada, temos uma natural dificuldade de dimensionar expectativas operacionais e calcular o ROI (Retorno sobre Investimento) para “projetos” de IA para aplicações industriais. E aqui já temos uma questão conceitual para pensarmos juntos. IA, assim como as demais tecnologias emergentes da indústria 4.0 usadas em jornadas de transformação digital, não devem ser consideradas um projeto (que possui início, meio e fim), mas sim um processo constante de melhoria contínua e geração de valor compartilhado por toda sociedade, impactando não somente os KPIs financeiros e operacionais da empresa, mas também os índices de segurança (colaboradores e ativos) e proteção ambiental, por exemplo.
4 – Outro ponto de reflexão é o medo que alguns executivos ainda possuem de compartilhar dados. Embora os dados industriais que a IA utiliza não possuam nenhum dado sensível que possa gerar problemas pela LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), alguns líderes industriais pensam que ao compartilhar dados de variáveis de processo e o P&ID, alguém pode ser capaz de copiar suas receitas de produção ou expor suas propriedades intelectuais e/ou tecnologias de processos. Com o compartilhamento dos dados de variáveis de processo em séries temporais, é impossível que alguém consiga copiar a fórmula do famoso refrigerante ou qualquer outro produto químico altamente especializado.
Em parte, este receio advém do baixo nível de confiança, mas em se tratando com empresas sérias, com regras de compliance e assinando acordos de confidencialidade, este risco absolutamente não existe, mas ainda assim, escuto bastante este tipo de preocupação. Não usar os benefícios da IA por causa disso, é um contrassenso e põe em risco a competitividade das empresas.
Os dados usados pela IA já estão disponíveis nos sistemas historiadores ou no DCS. Ao invés de usarmos estes dados para investigar problemas que já aconteceram, a IA utiliza os dados estrategicamente e possibilita trazer alertas com insights acionáveis para evitar que os problemas aconteçam, evitando paradas não programadas e a degradação da performance da planta industrial. Estas predições de falhas em equipamentos, sensores, sistemas e válvulas, bem como as predições de degradação da performance operacional da planta, efetivamente geram valor.
5 – Complexidade: algumas opções de IA são básicas e focadas em equipamentos como motores e bombas, outras ficam restritas às grandes máquinas como compressores, turbinas, etc. Sistemas bastante completos de gestão de performance de ativos (APM) são muito caros e complexos, e requerem um tempo considerável para implementação, mas possibilitam inúmeras integrações com outros sistemas de gestão.
Absolutamente todas as opções são importantes, entretanto, existem opções no mercado com investimento acessível, descomplicado e de comprovado sucesso, o SAM GUARD do Samson Group é uma delas, onde utilizamos dados já disponíveis no sistema historiador e não necessitamos investimentos em novo hardware ou sensores adicionais, trazendo resultados efetivos em pouco tempo.
Este manifesto visa trazer a urgência de dotarmos nosso parque industrial com a IA, seja ela qual for, para que elevemos o nível de maturidade digital de nossa indústria e possamos colaborar para diminuir a distância entre os países do “core” e os “periféricos”, onde nos encontramos atualmente, garantindo os empregos e a perpetuidade das nossas indústrias. Seja qual for a sua opção, implemente a IA!
6 – A convergência OT-IT, ou seja, a integração de dados dos sistemas OT (Operational Technology) das plantas industriais, e dos dados dos sistemas IT (Information Technology) das áreas corporativa e de negócios das organizações, potencializa os resultados da adoção da IA, já que correlações óbvias e não óbvias entre estes dados possibilita extrair muito mais valor dos ativos já disponíveis por toda organização. Embora a convergência OT-IT seja algo que independe da IA, muitas empresas ainda não usam estrategicamente seus dados. Porém, mesmo sem a convergência OT-IT, há a possibilidade de se implementar a IA separadamente nos sistemas OT e IT, o que já seria uma grande vantagem em relação à maioria dos concorrentes que não usam.
7 – Consumo de energia: no corporativo e na área de negócios, a IA generativa já tem sido usada consideravelmente, porém, nas plantas industriais, ainda temos muitas empresas sem obter as vantagens da IA.
O fato de as empresas estarem usando a IA generativa, através do ChatGPT ou outra qualquer, significa que o consumo energético resultante desta empresa está aumentando, já que uma simples consulta ao ChatGPT consome 10 vezes mais do que a mesma consulta no Google, de acordo com estudo da Universidade da Califórnia. Embora este consumo não apareça na despesa operacional da empresa, pois se trata de energia consumida nos data centers, em empresas com compromisso ESG, em seu escopo 3, há uma grande preocupação neste sentido, pois impacta consideravelmente os ODS 7 e 12 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável).
Sendo assim, para ajudar a fechar a conta, temos que usar a IA para aumentar a eficiência energética das indústrias e otimizar o uso das matérias-primas em seus processos. Usar a IA para predições de falhas impacta a eficiência energética e operacional das plantas industriais, compensando, de alguma forma, o aumento do consumo de energia pela IA generativa das áreas corporativas e de negócios.
8 – Comprovação de geração de valor através da IA: como as indústrias produzem seus produtos há muitos anos sem a IA, muitas vezes é difícil mensurar quanto valor pode ser gerado com a implementação da IA nas operações industriais.
Além dos valores tangíveis que a IA pode gerar em termos de aumento de confiabilidade dos equipamentos, maior disponibilidade operacional e melhor qualidade dos produtos finais, com consequente impacto no EBITDA da organização, ela também proporciona uma maior percepção de valor por parte dos acionistas e investidores, já que a empresa está alocando recursos em tecnologias que contribuem para o valuation da empresa, considerando uma depreciação menor de seus ativos, bem como menores despesas de manutenção no DRE (Demonstrativo de Resultados da Empresa), usado por analistas financeiros para recomendar compra/venda de ações para aquelas empresas listadas em bolsa. A adoção da IA traz também valores intangíveis, como aumento da reputação da empresa através de uma maior confiabilidade de suas operações, segurança dos ativos e colaboradores, e proteção ambiental.
Mas quais ações concretas podemos fazer para escalar a IA em nossas indústrias?
Com base nestes oito fatores acima apresentados, e para ajudar as empresas que possuem operações industriais na LatAm a elevarem o nível de maturidade digital de suas indústrias, estamos fazendo a nossa parte como Samson Group e oferecendo 90 dias gratuitamente para que as indústrias possam comprovar a geração de valor através da IA em seus respectivos casos reais de sua planta. Entre em contato para avaliarmos esta validação gratuita por 90 dias do SAM GUARD.
Se há um consenso sobre o imperativo de se usar a IA, agora todos podem ter a experiência de ver, em sua própria indústria, o valor que pode ser gerado com a IA!
Se você leu este artigo até aqui, e concorda com a urgência deste tema, junte-se a mim neste manifesto pelo uso da IA em nossas indústrias!
Seja você fornecedor ou usuário de qualquer indústria, também se torne um vetor para elevar a competitividade de nosso parque industrial. Juntos, podemos gerar mais valor compartilhado por toda sociedade!
Se gostou do artigo, compartilhe em suas redes sociais e vamos alavancar este manifesto. Se tiver comentários e sugestões para torná-lo melhor, me procure para debatermos e construirmos algo colaborativamente.
Vamos juntos nessa?
Grande abraço e aproveite esta bela edição da revista C&I.
Victor Venâncio
Diretor de Soluções Digitais LatAm
Samson Group
Victor.venancio@samsongroup.com
